ABC | Volume 108, Nº3, Março 2017 - page 66

Artigo Original
Costa et al
Insuficiência cardíaca chagásica grave
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):246-254
Introdução
A insufici ncia cardíaca (IC) representa uma síndrome
clínica em que o coração é incapaz de fornecer um débito
cardíaco que atenda às necessidades dos órgãos e tecidos
periféricos, ou só o faz sob condições de altas pressões de
enchimento em suas câmaras.
1
A
American Heart Association
(AHA) estima uma
preval ncia de 5,1 milhões de indivíduos com IC nos Estados
Unidos entre 2007 e 2012.
2
No Brasil, a preval ncia é de
2 milhões de pacientes e a incid ncia é de 240 mil novos
casos por ano.
3
A doença de Chagas ainda é importante etiologia de IC.
Aproximadamente 10-12 milhões de pessoas no mundo estão
infectadas pelo
Tripanossoma cruzi
e 21% a 31% delas vão
desenvolver a cardiomiopatia. Essa patologia é responsável por
cerca de 15 mil mortes anuais e aproximadamente 200 mil
novos casos. No Brasil, existem cerca de 3 milhões de pessoas
com a doença de Chagas.
1
O conhecimento e as experi ncias nos apontam que o
prognóstico dos indivíduos com IC é ruim e a doença de
Chagas, dentre as várias etiologias, possui o pior prognóstico
na IC.
4
Os estudos relacionados ao mau prognóstico dos pacientes
com IC chagásica t m sido muito apreciados. No entanto,
informações sobre preditores de mortalidade nessa doença
ainda são limitadas e o conhecimento desses fatores possibilita
a implementação do tratamento na presença de algumas
condições desfavoráveis.
5-7
O acesso a esses parâmetros é usualmente de fácil
obtenção, baixo custo e permite também identificar os
pacientes de maior risco de mortalidade.
Este estudo tem o objetivo de identificar a associação entre
fatores clínicos e laboratoriais com o prognóstico da IC grave de
etiologia chagásica, bem como a associação desses fatores com a
taxa demortalidade e a sobrevida emumseguimentode 7,5 anos.
Métodos
Este é um recorte do “Estudo Multic ntrico, Randomizado
de Terapia Celular em Cardiopatias (EMRTCC) – Cardiopatia
Chagásica”, com análise retrospectiva de dados colhidos
prospectivamente.
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A pesquisa foi conduzida no Serviço de Cardiologia, na
sub-especialidade de Insufici ncia Cardíaca no Hospital
das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A população-alvo deste estudo foi constituída por 60
pacientes de um total de 234 participantes do EMRTCC,
que permaneceram em acompanhamento no ambulatório
de IC do HC/UFG.
O EMRTCC demonstrou que a injeção intracoronária de
células-tronco autólogas não trouxe benefícios adicionais
sobre a terapia padrão para pacientes com cardiomiopatia
chagásica. Não houve melhora na função ventricular
esquerda ou qualidade de vida desses pacientes.
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O resultado neutro assegura que a população avaliada em
nossa casuística não sofreu interfer ncia do procedimento
em sua evolução.
O acompanhamento completo dessa população para este
estudo foi de 7,5 anos.
Parâmetros analisados
Pressão arterial sistólica
A medida da pressão arterial sistólica (PAS) foi realizada
com técnica auscultatória, com uso de esfigmoman metro
aneróide e estetoscópio devidamente calibrados. Foi
utilizada a técnica padronizada pela VI Diretriz Brasileira de
Hipertensão Arterial. Consideramos dentro dos padrões de
normalidade PAS de 120 mmHg e pressão arterial diastólica
(PAD) de 80 mmHg.
10
Idade
A idade foi calculada a partir da data de nascimento
registrada em documento de identificação do paciente,
considerando anos de vida completos ao ser selecionado
para o estudo.
Fração de ejeção do ventrículo esquerdo pelo método
de Simpson
A fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) foi
registrada através do exame de ecocardiografia realizado pelo
método de Simpson. Todos os exames foram feitos por um
único examinador em um aparelho Toshiba Xario.
Sódio plasmático
Fotometria induzida por eletrodo seletivo foi a técnica
utilizada para dosagem de sódio.
11
Os valores 135 a 144 mEq/l são refer ncia de
normalidade adotada pelo laboratório de análise local.
A concentração de sódio sérico abaixo do limite inferior da
normalidade < 135 mEq/l foi considerada hiponatremia, ao
passo que valores acima de 144 mEq/l foram considerados
hipernatremia.
11
Creatinina
A técnica automatizada de Jaffé foi utilizada para
identificação dos valores de creatinina no soro sanguíneo.
Os valores de refer ncia adotados para creatinina foram
0,7 – 1,3 mg/dl para homens e 0,6 – 1,2 mg/dl para mulheres.
11
Teste de caminhada de 6 minutos
Foram obtidos dois testes com intervalo mínimo de
15 minutos entre eles, para descanso. Ao término do teste de
caminhada de 6 minutos (TC6M), os dados vitais, coletados
inicialmente, foram novamente avaliados e a distância
percorrida pelo paciente foi calculada através da média obtida
pelos dois testes.
12
Os valores de refer ncia de normalidade para TC6M variam
entre 400m e 700m, considerando pessoas normais. Ainda
não existe na literatura valores de refer ncia padronizados
para cardiopatas.
13
Foi utilizado o valor ≥400m para resultado
247
1...,56,57,58,59,60,61,62,63,64,65 67,68,69,70,71,72,73,74,75,76,...108
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