Cardiologistas de
onze países da América Latina reunidos em Mangaratiba, no fim de
semana, definiram as "Diretrizes" para diagnóstico e
tratamento da insuficiência cardíaca descompensada, a doença que
é a maior causa de internação por motivos cardíacos pelo SUS, no
Brasil inteiro, e que causa mais mortes do que vários tipos de
câncer.
"Embora muita
gente veja o infarto como maior causa de morte por problemas
cardíacos, a campeã da mortalidade é a insuficiência
descompensada", explicam Edimar Bocchi e Fábio Vilas-Boas, que
comandaram a reunião organizada pela Sociedade Brasileira de
Cardiologia. A doença corresponde a uma perda de capacidade do
coração para bombear o sangue de que o organismo necessita, conta
ele, e pode se instalar como conseqüência da Doença de Chagas,
que afeta alguns milhões de brasileiros, da hipertensão e mesmo de
um infarto, quando ocorre a morte das células de parte do músculo
cardíaco.
É
a primeira vez que são criadas Diretrizes para esta doença |
Para o
cardiologista Fábio Vilas-Boas, "esta foi a primeira vez no
mundo que um grupo multinacional de médicos aceitou o desafio de
estabelecer as "Diretrizes" para a insuficiência
cardíaca descompensada", um objetivo tão ambicioso e
necessário que trouxe ao Brasil os maiores especialistas da
Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Venezuela, México, Costa Rica,
Guatemala, Equador e Colômbia, para um trabalho conjunto, que
começou em janeiro em cada país, com os especialistas discutindo,
definindo e redigindo pontos específicos do documento, cujo texto
final foi agora aprovado.
A preparação do
documento foi feita sob os auspícios da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, em parceria com a Sociedade Internacional de
Insuficiência Cardíaca.
As Diretrizes
médicas correspondem a um verdadeiro manual específico para uma
determinada doença. Seu objetivo é permitir que um médico não
especialista, um clínico geral de plantão num hospital, por
exemplo, possa atuar eficientemente ao receber um caso suspeito de
ter o problema de que trata a diretriz.
O documento, que
neste caso ficou com 50 páginas, especifica os sinais e sintomas
que indicam ser um caso de insuficiência, os exames que devem ser
providenciados para confirmar o diagnóstico e também as opções
de tratamento, ajudando o profissional a decidir se o paciente deve
ou não ficar internado, se é caso de UTI, de tratamento clínico,
associação de droga endovenosa com outra ministrada oralmente, de
cirurgia – pois em alguns casos a opção pode ser a
revascularização do coração, a substituição de uma válvula ou
até o transplante.
O trabalho se
completa com uma apresentação das mais novas drogas disponíveis
para o tratamento da doença, as indicações e doses precisas e o
resultado que pode ser esperado.
A maneira como é
apresentada uma Diretriz e a ordenação de seu índice facilita a
consulta rápida porque, segundo Edimar Bocchi, numa emergência,
muitas vezes, a maior carência é de tempo, e o médico precisa
tomar uma decisão rápida e acertada.
Agora que o
documento final foi aprovado, será encaminhado para publicação
numa das revistas científicas internacionais de referência para a
Medicina e posteriormente será impresso e fartamente distribuído.
A SBC vai disponibilizá-lo inclusive no seu portal eletrônico www.cardiol.br,
para que a qualquer momento os médicos possam consultá-lo, mesmo
nos hospitais e prontos-socorros mais distantes das grandes cidades.
A
Insuficiência Cardíaca Descompensada causa mais mortes do
que vários tipos de câncer, além de ter maior número de
internações por motivos cardíacos, pelo SUS, em todo
Brasil |
O presidente da
Sociedade Brasileira de Cardiologia, Juarez Ortiz, reitera que a
divulgação de Diretrizes é tão importante num momento em que a
Cardiologia evolui diariamente com a disponibilização de novas
drogas, inovações e descobertas, que a atual gestão da entidade
decidiu pedir um esforço concentrado dos oito mil cardiologistas
associados, para preparar cerca de 40 Diretrizes. "A
abrangência desse projeto e a dedicação que está exigindo da
categoria profissional pode ser calculada quando se lembra que, em
média, cada sociedade de especialista publica uma, no máximo duas
Diretrizes por ano", ele enfatiza.
Apenas nos últimos meses, a
Sociedade Brasileira de Cardiologia já divulgou Diretrizes sobre
Hipertensão, Ergometria e Angina, para a preparação de cada uma
das quais houve o concurso de mais de uma dezena dos maiores
cardiologistas brasileiros.
|