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A quem (não) interessa as O mundo de hoje assiste atônito ao desenrolar de várias crises! Somos atores e protagonistas de mudanças e resultados que na maioria das vezes não sabemos e não queremos. As profissões liberais se extinguem, perante um mundo cada vez mais massificado e competitivo. E, talvez, uma das mais ferozes e danosas crises seja aquela existente entre CAPITAL x TRABALHO. Pois é a partir dela que as vertentes da fome, do desemprego, da violência e das doenças se manifestam com suas faces mais desumanas. Interessante notar que, em um mundo que tanto evoluiu em suas relações filosóficas e humanas, apenas dois tipos de sistemas "administrativos" ainda hoje regulam estas relações, o chamado NEGOCIAL, (França, Estados Unidos, Itália, Espanha, Japão e na maioria do mundo desenvolvido) onde o Estado tem um poder apenas regulador, e um outro convenientemente chamado de ESTATUTÁRIO, praticado por países como a China, Cuba e Brasil, onde o poder do Estado se manifesta de uma forma constante (e na maioria das vezes arbitrária) sobre esta relação. Importante é ressaltar que o atual modelo que se pratica em nosso meio, não atende a nenhum dos participantes deste "pacto". Seja por insuficiência de remuneração, seja por diminuição da produtividade ou seja ainda, como pensam alguns, pelo alto custo final dos contratos trabalhistas – o chamado custo Brasil! E assim, em meio às mais diversas justificativas, assistimos impotentes ao cenário de uma remuneração indigna, de uma valorização profissional inexistente e de um valor social cada vez mais fragmentado! Qual será a saída? Como se apresenta hoje o mercado de trabalho cardiológico no Brasil? A pesquisa divulgada pela DQA da SBC no último trimestre do ano passado (e ainda disponível em nosso "site") é muito clara! PERDEMOS (nós, cardiologistas) aproximadamente 35% da renda mensal proveniente de nossa remuneração, em relação aos mesmos valores do ano de 2001, quando foi realizada a primeira pesquisa pela SBC. Espantado? Compare agora com seu bolso! Entenda agora o porquê (com menos 35%) daquela discussão "pesada" com seus filhos sobre "economia doméstica responsável", e que no final deixa sempre a dúvida, se fomos ou não injustos. A nossa remuneração depende cada vez mais dos "planos-de-saúde", cuja participação cresceu em três anos quase 40%, na renda dos cardiologistas. Interessante esta coincidente aproximação: 40% X 35%. A maior perda aconteceu nos extremos das faixas de remuneração. A faixa acima de 40 SM/mês e aquela até 10 SM/mês. Refletindo assim, o empobrecimento médio populacional e os honorários cada vez mais aviltantes oferecidos a quem ingressa no mercado de trabalho! O propósito de uma cooperativa é a UNIVERSALIZAÇÃO! Sua base filosófica é a cooperação, a INCLUSÃO! É aí, exatamente aí, que as cooperativas de cardiologistas podem começar a mostrar a sua força e atuação! À medida que consigamos incluir os nossos jovens e sonhadores cardiologistas, que cada vez mais titulamos, em um mercado de remuneração mais digna, protegidos por uma cooperativa, estaremos honrando e justificando a tão buscada qualificação profissional que desejamos. Isto não é tão difícil! Alguns dirão, levados pelo velho refrão de conhecidas "cooperativas", que isto inviabilizará o mercado já por alguns conquistado. MENTIRA! Atrapalha, isto sim, os incompetentes, os oligárquicos e aqueles que acostumados às antigas regras do sistema, conquistaram seu espaço e deram as costas à realidade. A cooperativa de cardiologia pode mudar este quadro. Basta que, através de uma grande convocação, abrigue os novos cardiologistas titulados, e seja ela a intermediária de uma nova relação com o mercado. E quanto ao resto da pirâmide, que também acumulou perdas? Mais uma vez a cooperativa de cardiologia organizada, amparada pela SBC legitimada pela excelência científica, se revestirá em um baluarte sereno, e não partidário, em defesa de uma remuneração mais digna, atuando sempre que necessário, como um "escudo" contra o autoritarismo praticado por quem que de muito já conhecemos. E isto, meus amigos, será tão importante para cada um de nós, como para a sociedade como um todo! Ou será que, neste momento, alguém ainda tem dúvidas que remuneração e qualificação em um sistema como o nosso são valores indissociáveis? Basta apenas que implementemos, como já proposto a todas as estaduais, o ESTATUTO COOPERATIVISTA PADRÃO, tornando obrigatória a filiação de TODOS os cardiologistas que quiserem se cooperar à SBC. E mais, quando criarmos cooperativas em número suficiente para fundarmos uma FEDERAÇÃO DAS COOPERATIVAS DE TRABALHO DE CARDIOLOGISTAS, caminharemos para uma solução CONFEDERATIVA, e passaremos a ter assento institucional no CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, passando então a discutir e opinar sobre todas as estratégias políticas aplicáveis à nossa especialidade, não mais dependendo, assim, das variações de temperamento e humor do administrador-mór de plantão que, segundo seu arbítrio, poderá ou não nos convidar a participar em assuntos sobre os quais deveríamos sempre ser consultados. A semente está plantada! O trabalho já começou! Mais que nunca, é preciso que cada um de nós repense perante esta nova (e triste) realidade! Mais que nunca, é preciso que cada um de nós reveja o seu papel. Não apenas por si, mas também pelas gerações que nos seguem, e que viram em nós um modelo e ideal. Do contrário, estaremos uma vez mais fazendo o jogo daqueles a quem, eu agora espero claramente identificados, não interessam que se criem COOPERATIVAS DE CARDIOLOGIA em todo o Brasil.
Um grande abraço,
Emilio Cesar Zilli Coordenador de Cooperativas e-mail: eczilli@cardiol.br
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