ABC | Volume 108, Nº3, Março 2017 - page 86

Artigo de Revisão
Stein et al.
Genética e exercício
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):263-270
A interpretação clínica dos resultados dos estudos genéticos
A interpretação adequada dos resultados de um estudo
genético é essencial não só para se fazer um diagnóstico
correto, mas também para uma recomendação apropriada
ao atleta e sua família. A esse respeito, avaliação cuidadosa
da patogenicidade de uma variante (Tabela 4)
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é um
aspecto chave. Não só devem ser levadas em conta as
informações existentes disponíveis até a data nas principais
bases de dados e publicações, mas também a análise da
informação por uma equipe proficiente, garantindo um
resultado confiável.
Por consenso, em caso de dúvida na patogenicidade da
mutação (significância clínica incerta), sua utilização não
é recomendada para o diagnóstico da doença e não deve
ser utilizada para o rastreio da família (sem valor clínico
preditivo). Há também casos difíceis de resolver, mesmo
tendo-se identificado claramente variantes patog nicas.
Tabela 1 –
Genes frequentemente associados com o desenvolvimento das diferentes miocardiopatias
Miocardiopatia
Gene (símbolo)
Probabilidade
Pré-teste
MCH
MYBPC3, MYH7, TNNC1, TNNT2, TNNI3, TPM1, ACTC1, MYL2, MYL3, PRKAG2, LAMP2, GLA, GAA, TTR, PTPN11.
70%
MCD
TTN, ACTC1, BAG3, DES, DMD, DSP, FLNC, LMNA, MYBPC3, MYH7, PKP2, PLN, RBM20, TAZ, TNNC1, TNNT2, TNNI3, TPM1.
40 - 50%
MAVD
DSC2, DSG2, DSP, JUP, PKP2, LMNA, FLNC, TMEM43, PLN.
50 - 65%
MCNC
MYBPC3, MYH7, ACTC1, TAZ, LDB3.
40 - 50%
MCH: Miocardiopatia Hipertrófica; MCD: Miocardiopatia Dilatada; MAVD: Miocardiopatia Arritmogênica; MCNC: Miocardiopatia Não Compactada.
Tabela 2 –
Genes frequentemente associados com o desenvolvimento das diferentes canalopatias
Canalopatia
Gene (símbolo)
Probabilidade
Pré-teste
SQTL
KCNQ1, KCNH2, SCN5A, KCNJ2, KCNE1, KCNE2, CACNA1C.
70%
SQTC
KCNH2, KCNQ1, KCNJ2
Desconhecido
SBr
SCN5A, SCN10A
30%
TVPC
RYR2, CASQ2, KCNJ2
50 - 60%
SQTL: Síndrome do QT Longo; SQTC: Síndrome QT curto; SBr: Síndrome de Brugada; TVPC: Taquicardia Ventricular Polimórfica Catecolaminérgica.
Tabela 3 –
Genes frequentemente associados com o desenvolvimento das diferentes doenças da aorta de causa genética
Doenças da aorta
de causa genética
Gene (símbolo)
Probabilidade
Pré-teste
Síndrome de
Marfan
FBN1
~70 - 93%
Síndrome de
Loeys-Dietz
TGFBR2, TGFBR1, SMAD3, TGFB2, TGFB.
~70 - 95%
Síndrome de
Ehlers-Danlos tipo
vascular
COL3A1
>95%
Doença de aorta
torácica familiar
ACTA2, TGFBR2, TGFBR1, MYH11, SMAD3, MYLK, FBN1
~17 - 20%
Quando um atleta se encontra clinicamente saudável ou
não está afetado (fenótipo negativo), mas é portador de
uma variante patog nica (genótipo positivo), as diretrizes
internacionais são discordantes. Nesse caso, ante um
diagnóstico precoce em atletas (genótipo positivo, fenótipo
negativo), as diretrizes norte-americanas são muito mais
liberais, muitas vezes não desqualificando o atleta para o
esporte competitivo. Por outro lado, a diretriz da ESC é bem
mais restritiva.
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O que fazer se o estudo genético é positivo no atleta?
A presença de uma mutação genética em um atleta não
significa que esse irá desenvolver a doença, mas representa
um aumento da susceptibilidade para desenvolv -la ou
sofrer da mesma. Há casos em que nem todos os portadores
de uma mutação desenvolvem a doença (penetrância
incompleta). Algumas mutações necessitam de fatores
ambientais (esporte, hipertensão) ou genéticos adicionais
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