Artigo Original
Silva et al
Variabilidade da frequencia cardiaca no diabetes
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):255-262
Tabela 4 –
Sensibilidade, Especificidade, Curva ROC e ponto de corte para os índices de variabilidade da frequência cardíaca com curva ROC > 0,65
Índices
SEN
ESP
ROC
Ponto de Corte
RMSSD
0,66 [0,49 – 0,80]
0,81 [0,66 – 091]
0,79 [0,69 – 0,87]
37,00
SDNN
0,57 [0,40 – 0,73]
0,88 [0,74 – 0,96]
0,80 [0,70 – 0,88]
41,90
PNN50
0,71 [0,55-0,85]
0,72 [0,56-0,84]
0,77 [0,66-0,85]
18,50
LF (ms
2
)
0,79 [0,63 – 0,90]
0,69 [0,53 – 0,82]
0,75 [0,64 – 0,84]
711,00
HF (ms
2
)
0,82 [0,66 – 0,92]
0,55 [0,39 – 0,70]
0,74 [0,63 – 0,83]
826,00
RRTri
0,69 [0,52 – 0,83]
0,76 [0,61 – 0,88]
0,76 [0,65 – 0,85]
12,66
SD1
0,66 [0,49 – 0,80]
0,79 [0,64 – 0,90]
0,78 [0,68 – 0,87]
26,20
SD2
0,61 [0,44 – 0,76]
0,88 [0,74 – 0,96]
0,80 [0,70 – 0,88]
55,60
SEN: sensibilidade; ESP: especificidade; RMSSD: raiz quadrada da média do quadrado das diferenças entre intervalos RR normais adjacentes, em um intervalo
de tempo, expresso em ms; SDNN: desvio padrão de todos os intervalos RR normais gravados em um intervalo de tempo, expresso em ms; LF: componente de
baixa frequência; HF: componente de alta frequência; RRTri: índice triangular; SD1: desvio padrão da variabilidade instantânea batimento a batimento; SD2: desvio
padrão da variabilidade a longo prazo.
Javorka et al.
9
observaram redução dos índices SDNN, RMSSD,
PNN50, LF ms
2
e HF ms
2
em 17 indivíduos com DM tipo 1
(22,4 ± 1,0 anos). Jaiswal et al.,
12
em um estudo com mais de
350 jovens com DM tipo 1 (18,8 ± 3,3 anos), observaram que
os índices SDNN, RMSSD, HF nu, LF nu e a relação LF/HF eram
significativamente menores nesses indivíduos em comparação
a indivíduos saudáveis. Porém, em nosso estudo, não foram
observadas diferenças entre os grupos quanto às relações
SD1/SD2 e LF/HF e os índices LF eHF emunidades normalizadas.
Alterações nos índices de VFC são um indicativo de
adaptação anormal e insuficiente do SNA,
7
condição que
aumenta o risco de morte súbita por arritmias cardíacas
e está associada à elevação das taxas de mortalidade por
outras causas.
33
Tal fato indica que a disfunção auton mica
cardíaca em pacientes já em risco, como no DM, pode ser
um agente complicador.
34
Estudos apontam ainda que alguns índices da VFC possuem
boa acurácia diagnóstica em determinadas populações.
15-17
Em nosso estudo, observamos que os índices RMSSD, SDNN,
PNN50, LF ms
2
, HF ms
2
, RRtri, SD1 e SD2 apresentaram
melhor sensibilidade e especificidade para discriminar
disfunção auton mica em indivíduos com DM tipo 1 em
comparação a indivíduos sem a doença. Os índices que
apresentaram melhor poder discriminatório foram também
aqueles que apresentaram valores significativamente menores
no grupo DM tipo 1 em comparação com o grupo controle.
Esses índices estão relacionados à análise do comportamento
parassimpático (RMSSD, PNN50, HF ms
2
e SD1), simpático
(LF ms
2
) e global do SNA (SDNN, RRtri e SD2),
7
e sugerem
que a discriminação de pacientes com DM tipo 1 pode estar
relacionada à redução da modulação auton mica global,
simpática e vagal do coração.
Poucos são os estudos que avaliam o poder diagnóstico da
VFC em indivíduos com DM tipo 1. Ziegler et al.
35
apontaram
que o índice HF apresentou maior sensibilidade para detectar
disfunção auton mica precoce em diabéticos tipo 1 e tipo 2
já classificados em tr s estágios de neuropatia auton mica
cardíaca. Já Khandoker et al.
15
observaram que em diabéticos
tipo 2, a SampEn e que a relação SD1/SD2 obtida pelo
plot
de Poincaré foram os índices capazes de distinguir melhor os
pacientes diabéticos comneuropatia auton mica cardíaca, com
sensibilidade de 100% e especificidade de 75%.
Ainda, Takasae et al.
36
apontaram que valores de SDANN
inferiores a 30 ms geraram melhor sensibilidade (72%)
e especificidade (92%) do que valores inferiores a 20ms
(sensibilidade de 31% e especificidade de 100%) para detectar
disfunção auton mica e eventos cardíacos em diabéticos tipo
2 com neuropatia auton mica cardíaca.
Contudo, esses estudos avaliaram apenas indivíduos com
neuropatia auton mica cardíaca instalada,
35,36
à exceção de
Khandoker et al.,
15
que avaliaram todos os indivíduos diabéticos,
independente do diagnóstico de neuropatia. Em nosso estudo,
a acurácia diagnóstica da VFC foi analisada em ambos os grupos
(DM e controle) ao mesmo tempo, com a preocupação de
avaliar o poder da ferramenta em discriminar indivíduos com
DM tipo 1 de saudáveis a partir da presença de alterações na
modulação auton mica cardíaca, fornecendo resultados mais
próximos da prática clínica.
Sendo assim, este estudo destaca-se por avaliar a capacidade
da VFC em diagnosticar possíveis alterações auton micas em
indivíduos com DM tipo 1, identificando um valor de corte
que indique aos profissionais da área da saúde alterações que
possam estar associadas à presença precoce de neuropatia
auton mica cardíaca. É importante salientar que nenhum dos
voluntários avaliados possuía como complicação decorrente
do DM tipo 1 a neuropatia auton mica cardíaca. Deste modo,
não podemos afirmar que os valores de corte apresentados
neste estudo estejam relacionados à neuropatia auton mica
cardíaca, como em outros estudos,
15,35,36
mas sim a uma
depressão do SNA possivelmente relacionada ao DM tipo 1,
8-14
que deve ser investigada e tratada, para prevenir a progressão
para neuropatia auton mica cardíaca. Vale ressaltar ainda
que a diminuição da VFC é o primeiro sinal de neuropatia
auton mica, e é sugerida como um dos testes de diagnóstico
em um posicionamento da American Diabetes Association.
6
A validade de um teste refere-se a sua capacidade
em diagnosticar ou predizer um evento, e as medidas de
sensibilidade e especificidade fornecem a probabilidade de
260