Artigo de Revisão
Stein et al.
Genética e exercício
Arq Bras Cardiol. 2017; 108(3):263-270
em um dos familiares afetados. Uma vez detectada a mutação
causal da doença, aí simos demais membros da família, incluído
o esportista, deverão ser estudados;
b) quando o atleta tem um fenótipo que indica fortemente a
presença de uma doença hereditária (sinais, sintomas e/ou testes
sugestivos de doença específica ou compatíveis comamesma).
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A avaliação genético-clínica sempre deve ser o primeiro
passo antes da realização de um estudo genético
per se
.
Essa investigação deve incluir uma anamnese minuciosa dos
antecedentes familiares, assim como umexame físico completo.
A história familiar deve incluir aspectos como idade do início
dos sintomas, atividades desencadeantes dos mesmos, doença
diagnosticada, grau de parentesco e número de familiares
afetados. Nesse particular, realizar uma árvore genealógica ou
pedigree
da família (Figura 1) permitirá detalhar os antecedentes
familiares, sempre devendo seguir a investigação pelo lado da
família afetado. No caso da aus ncia de suspeitas nos familiares
de primeiro grau, deve-se ampliar o estudo para mais uma
geração, isso se houver grande suspeita de cardiopatia herdada.
Por esse motivo, é importante que o clínico/cardiologista
que realizar as avaliações deva estar consciente dos sinais e
sintomas desse grupo de doenças, podendo assim referenciar
oportunamente casos suspeitos aos especialistas em
cardiopatias familiares e/ou genética cardiovascular. O atraso
no encaminhamento diagnóstico não é desejado e o exercício
físico deve ser evitado nesse período. Por último, devemos ter
em mente que a avaliação não dever ser restrita somente ao
indivíduo com o diagnóstico, mas a toda a sua família.
Doenças cardiovasculares de causa genética
As doenças cardiovasculares hereditárias, incluindo as
miocardiopatias (hipertrófica, dilatada, arritmog nica, restritiva e
não compactada), as canalopatias [síndrome doQT longo (SQTL),
síndrome de Brugada (SBr) e taquicardia ventricular polimórfica
catecolaminérgica (TVPC)] e as doenças da aorta (síndromes
de Marfan, Loeys-Dietz), são um grupo de entidades com
grande heterogeneidade clínica e genética. Estudos moleculares
realizados em diferentes populações demonstraram associação
de cada uma dessas condições a centenas de mutações
patog nicas diferentes.
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Nesse contexto, existemmutações em
diferentes genes associadas a um mesmo fenótipo. Em alguns
casos, os genes cumprem funções similares ou transcrevem
proteínas que fazem parte de uma mesma estrutura ou via
funcional (proteínas sarcoméricas, junções desmossomais, canais
i nicos). Em outros casos, a presença de uma só mutação pode
ser causa suficiente para o desenvolvimento da doença. Cabe
salientar que a variabilidade clínica das doenças também pode
ser explicada por fatores epigenéticos e/ou pela interação com
o ambiente. Por fim, enfatizamos que, com o desenvolvimento
de novas tecnologias de sequenciamento genético (NGS,
next
generation sequencing
), permitindo a análise completa e em
paralelo de diferentes genes, é possível identificar a variante ou
variantes genéticas causais de uma doença de forma mais rápida
e menos onerosa.
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Miocardiopatias, genética e esporte
A Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, em Ingl s)
define as miocardiopatias como doenças nos quais o miocárdio
é estrutural e funcionalmente anormal, na aus ncia de
coronariopatia, hipertensão, doença valvular ou cong nita,
que possam explicar essas alterações. Dentre essas condições
estão a MCH, a miocardiopatia dilatada (MCD), a MAVD e
as miocardiopatias restritiva e não compactada (MCNC). Essas
doenças, exceto a MAVD, compartilham mutações genéticas
sarcoméricas. Por exemplo, diferentes mutações patog nicas em
genes sarcoméricos, tais comoMYH7 ouMYBPC3, podemestar
associadas a várias miocardiopatias (Figura 2). Além disso, uma
Figura 1 –
Heredograma de uma família com suspeita clínica de uma canalopatia. Quadrado - homem, círculo - mulher, barra oblíqua - falecido, seta - caso índice,
círculo ou quadrado vermelho - indivíduo afetado; MS: morte súbita.
68 anos
MS enquanto dormia
autópsia normal
30 anos
Síncope após o exercício
ECG normal
ECO normal
67 anos
42 anos
17 anos
12 anos
11 anos
9 anos
40 anos
38 anos 37 anos
35 anos
33 anos
65 anos
63 anos
60 anos
MS, 50 anos
I
II
III
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